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Mágoas Amorosas de Elmano

Idyllio Por Bocage

9781465567338
5 pages
Library of Alexandria
Overview
Que scena tão suave aos Amadores! Capaz de amenizar o horror da Morte, Que, de azas negras, me esvoaça emtorno! Que scena tão suave aos Amadores! Com brando murmurëo alêm revõão De Venus, e de Analia, (iguaes no encanto) De Venus, e de Analia as avezinhas. Alli magoas não ha, não ha saudades, Vivem como eu vivi, como eu não morrem! Doce he ver-lhe os desejos innocentes, Os momentos de Amor! He doce ouvir-lhe Ternos gemidos em delicias ternas! Unindo os bicos, se namorão, se instão, Se afagão longamente, e arrulão juntas. Nellas pejo não he, nem crime o gosto, O altar da Natureza urdio seus laços! Fêrreo Dever, que o Sentimento ancèa, Dever, algõz de Elmano, algõz de Analia, Nos tenros corações lhes não carrega! Felices Passarinhos melindrosos, De Analia inveja sois, de Elmano inveja, Sois da ternura, e do prazer a imagem. Felices Passarinhos! Esquecei-vos Hum momento de vðs para lembrar-vos De dois saudosos, mëseros Amantes: Vðs os vistes viver, morrer de amores, Viste-os Mortaes, e parecião Numes! Doces Escravos da prizão mais doce, (Prizão, que apêrto, que eternizo, e beijo!) De Analia, como Elmano, escravos ternos, Elle gemendo está: gemei com elle, Ella suspira: suspirai com ella, E na maga inflexão da voz maviosa (Fonte de encantos, de carinhos fonte) Brandura aprendereis, que apure a vossa. Avezinhas de Amor! Não sð merecem Dois Amantes fieis a vðs piedade, Mas piedade aos Leões, piedade aos Tigres, Piedade á Natureza, ao Fado, a Tudo. Ah! Se alguma de vðs logrou mais beijos Daquella, cujos mimos deleitosos Á vossa candidez eu permittia, [1] E a hum Deos, e mesmo a hum Deos os não cedèra; Se algum de vðs, ð Passarinhos meigos, Entre o ditoso, afogueado enxame Dos pensamentos meus, dos meus desejos, De Analia no sagrado, e nëveo seio Pousou, e, sem morrer, gozallo põde, E suave embebèo por entre as rosas O biquinho subtil n'um Ceo de Amores: Se encantadõra primazia obteve No bem, na gloria de celeste afago: Por isto, que expressão não tem no Mundo, Ou de que hum ai dos meus sðmente he frase, Por isto á venturosa Estancia võe, Onde o que devo a Amor me usurpa o Fado, Lares demande, que esclarece Analia, Adeje aos campos que florecem d'ella; E quando a vir co' a fantasia absïrta Na imagem do sempar, mesquinho Amante, Contando, como os Sêculos se contão, Agros momentos de teimosa ausencia, Que os bens do coração lhe some aos olhos, Pouse na mão de neve, e gema, e diga: (Por milagre de Amor) «eis os suspiros, «A vida, o ser, o espirito de Elmano. «Todo he teu, todo he teu: não quer, não pðde «Ser d'outra, nem de si, nem do Destino. «Amor he mais que o Tempo, he mais que o Fado: «Eia, triunfos contra Fado, e Tempo, «E os premios da constancia delle espera. «Venus, a Mãi de Amor, por ti deixámos, «Idalia por teus Lares esquecemos; «Ao ver-te a fê, o ardor, nos atrahërão «Inda mais que os da face, encantos d'alma. «De Elmano a doce causa he causa nossa: «Deosa nos olhos, nos sorrisos Deosa, «Monstro, se o deixas, te fará teu crime.7; [1] Expressão apaixonada, e que forçosamente se entende em sentido Mitholðgico