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O Romance de um Homem Rico

9781465649898
400 pages
Library of Alexandria
Overview
Quando Camillo Castello Branco escrevia no seu livro dilecto esta sentença:—«O homem não acha em si os alivios da razão quando os vicios lh'a degeneram», estava julgando a sua propria alma no tribunal austero da consciencia. Não vejam n'isto censura, os melindrosos por conta alheia. O romancista, se não é um armador de encommendas, um preparador de effeitos, um pintador de scenarios, um arranjador de visualidades, se sente como escreve, ao menos quando escreve, encarnando-se nos seus personagens, reconhecendo em si as paixões que lhes reconheceu ou que lhes attribuiu, se com elles ama, odeia, chora ou blasphema, faz como o sabio, o martyr da medicina, que, para se convencer e para não falsear a sciencia que professa, muita vez se envenena ou se dilacera. Camillo era aqui o pensador, o philosopho, o analysador frio do seu excepcional espirito, ora embaciado, a ponto de não vêr distinctamente o objectivo da sua cogitação, ora transparente e brilhante, a dar-lhe lucida a verdade, fôsse onde fôsse o esconderijo d'ella, fôsse qual fôsse a distancia em que demorasse. Se o romancismo é mester, o escriptor é artifice; se é arte, se é acto impulsivo, o romancista é poeta. Quando Camillo Castello Branco escrevia no seu romance mais querido:—«Não sei que haja ahi outros incentivos que me chamem aos olhos as lagrimas do coração. Quem me quizer vêr chorar e vibrar de não sei que vehemente e religioso enthusiasmo, conte-me cazos da natureza d'aquelles: faça-me acreditar na existencia d'umas almas que vão entender-se com Deus por um raio esplendoroso da graça divina», declarava-se não mesteiral mas poeta, e denunciava o genero da sua poesia.