Title Thumbnail

Rainha sem reino: (Estudo historico do seculo XV)

9781465649355
188 pages
Library of Alexandria
Overview
A infanta de Portugal, D. Joanna, filha de el-rei D. Duarte e da rainha D. Leonor d’Aragão, nasceu posthuma, em março de 1439. Duas grandes fatalidades pareceram cobrir com a sua aza negra o berço da infantasinha portugueza: o lucto pela morte de seu pae, esse illustrado e infeliz rei para quem a vida fôra pouco menos de um martyrio ininterrupto, e a peste que então grassava em Lisboa, obrigando a côrte da rainha viuva a retirar-se para Almada, onde a infanta nascera na quinta de Monte Olivete. Menos feliz do que sua irmã D. Philippa, que n’esse mesmo anno morrera menina, tocada da peste, D. Joanna foi desabrochando as graças da sua infancia no meio de uma côrte melancholica, perturbada pelas luctas politicas da regencia, entregue ao cuidado da sua aia Maria Nogueira, e, mais tarde, confiada á companhia da sua camareira-mór D. Isabel de Menezes, mulher de Ruy de Mello, alcaide-mór de Elvas. Menina e moça, a infanta, extremamente bella, fazia lembrar uma flor que vegeta á beira de um tumulo, porque essa côrte viuva, onde a triste reina não tinha uma hora de serenidade de espirito, não era, de feito, mais do que o tumulo de todas as alegrias de familia, porque não as teve a de D. Duarte, nem a de seu filho Affonso V. Chegando aos dezesete annos de edade, fôra D. Joanna pedida em casamento por seu primo Henrique iv, de Castella, que tinha nascido a 5 de janeiro de 1425, e fôra jurado principe das Asturias nas côrtes geraes de Valhadolid com festas publicas. O bispo de Cuenca, que o baptizara, prégou sobre este thema: Puer natus est nobis. Um menino nos nasceu. Mas apesar de nascer entre jubilos o menino, que no throno de Castella devia succeder a seu pae D. João II, as côrtes preoccuparam-se logo de resolver uma questão importantissima. Fôra o caso, que D. João II havia casado com a infanta D. Maria, sua prima carnal, filha de Fernando I, de Aragão, irmã de D. Leonor, casada com D. Duarte, de Portugal, e que este casamento intromettera nos negocios politicos de Castella os infantes de Aragão, especialmente D. João e D. Henrique, que procuravam tomar ascendente no animo do rei, seu cunhado. D. Henrique, que era mestre de S. Tiago, e que aspirava a desposar, como desposou, D. Catharina, irmã do rei D. João, foi até ao extremo de assaltar o paço, e de querer aprisionar o rei. O infante D. Henrique entrara preso na fortaleza de Móra, e D. João II representou ao rei de Aragão, Affonso V, para que lhe entregasse os cavalleiros que tomaram partido por D. Henrique. Mediaram negociações, e o rei de Aragão resolveu finalmente invadir o reino de Castella. Fôra pois a noticia d’esta invasão o assumpto que preoccupara a attenção das côrtes. Se o rei de Aragão se obstinasse em penetrar em Castella, o que se havia de fazer? Resistir-lhe, decidiram as côrtes ao cabo de longos debates. Vagara entretanto o throno de Navarra, a que o infante aragonez, D. João, subira pelo seu casamento com a infanta D. Branca. Este incidente deu uma nova face ás pendencias de D. João de Castella com D. Affonso de Aragão. O infante D. Henrique reconquistara a liberdade, para continuar a lucta, e o rei de Aragão dissolveu o exercito com que se havia preparado para combater o adversario.