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Sociologia Chinesa

Autoplastia

9781465570109
8 pages
Library of Alexandria
Overview
TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM EM ANIMAL NA CHINA Proclamações officiaes e noticias publicadas pelas folhas periodicas sobre a recrudescencia do roubo de creanças, nesta (Kuangsi) e nas provincias adjacentes2 revelam dous factos importantes da Sociologia Chinesa. Consiste o primeiro na crença de que os que roubam gente possuem certas drogas que, administradas ás victimas, as põem sob completo imperio da vontade do propinador, assumpto de que não vou agora occupar-me. O segundo facto informa-nos que as drogas produzem a aphasia tornando o individuo inteiramente incapaz de fallar, e, estiolado este, pela reclusão em logar completamente escuro, ou deformado por mutilação, faz-se d'elle objecto appropriado para os pelotiqueiros exhibirem ao publico. Mas, ainda que estes flagellantes crimes sejam offensa capital, não são susceptiveis de completa repressão. Infelizmente estes actos de inhumanidade praticados no homem pelo homem, apenas indicam uma parte das atrocidades praticadas pelos roubadores de gente. De todas as torturas que o odio politico e religioso tem inventado, nada excede o queimar e esfolar em vivo. Mas se a extracção da pelle se fizer por operações successivas, parte por parte, como se faz ao individuo roubado para o transformar em homem animal, os soffrimentos devem ser agonisantes, alem do que a imaginação pode conceber. É o que acontece quando a pelle humana se remove para a substituir pela do animal, urso ou cão, porque em tal caso só pequenas secções se podem praticar de cada vez, afim de que o individuo possa sobreviver. Que longo periodo não é necessario para conseguir o processo completo de transformar o homem em animal?! Que martyrisantes torturas lhe não inflingem antes de adquirir a apparencia e condição do bruto?! O embrutecimento está longe do seu fim quando a pelle do animal se adaptou á carne do homem. Falta ainda emmudecel-o, destruindo-lhe as cordas vocaes, o que se obtem, affirma-se, pelo emprego de carvão. Não é preciso destruir-lhe a faculdade de ouvir, mas a victima é sujeita a um regimen muito egual ao que soffreu Gaspar Stanse. O Hupao3 descreve o apparecimento de um homem transformado artificialmente em besta, que foi exhibido no Quiangsi. Todo o seu corpo era coberto de pello do cão, que fôra substituido pela sua propria derme ou verdadeira pelle. Andava de pé (muitas vezes são mutilados de forma que só possam andar com as mãos no chão) podia pronunciar uns sons inarticulados, sentar se, pôr-se de pé, fazer cumprimentos á chinesa e, emfim, conduzir-se em geral como um ser humano. O magistrado, tendo ouvido fallar no homem animal, deu ordem para que o trouxessem ao seu palacio, onde o felpudo do corpo e o todo selvagem causaram admiração e terror. «Sois vós um ente humano?» perguntou o magistrado ao extraordinario individuo, que respondeu com um aceno affirmativo de cabeça. «Podeis escrever?» Novo aceno de cabeça affirmativamente feito, foi a resposta; mas quando lhe deram um pincel4 não poude escrever por não poder pegar-lhe. Lançou-se, porém, cinzas no chão, e o homem-cão, abaixando-se, escreveu cinco caracteres que representavam o seu nome e a terra da sua naturalidade Changtung. Inqueritos subsequentes revelaram o facto de haver sido roubado; o seu captiveiro, e as horriveis operações de que fôra victima. O seu dono foi punido, é claro, com a pena capital, porque declarou que só um d'entre cinco sobrevivera á operação. Conhecem os leitores não professionaes a operação denominada taliacoção, porque a terão lido nas encyclopedias. O seu nome é tirado de Taliacotius, cirurgião italiano do seculo XVI. Consiste em transplantar a pelle, como quando se substitue o nariz pelo tegumento da testa ou pela carne do braço, operação particular a que se chama rhinoplastia. Ainda que não haja noticia de que os chineses praticassem esta arte, sabiam que a pelle de um animal pode ser adaptada a outro que haja sido escoriado para esse fim, muito antes da anatomia e cirurgia serem estudadas e ensinadas em Bolonha