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Questão do Palheiro

Coimbrões e Lisboetas

9781465569615
11 pages
Library of Alexandria
Overview
Uma pergunta em segredo a respeito do Castilho. —Sabem quem é o sujeito?— Um velhote de respeito, sempre co'a mão no gatilho d'algum doirado epigramma; que a pedido faz prefacios, onde ha perolas e lama; que não encontra poetas como os Virgilios e Horacios; que foi o author infeliz do a-b-c repentino, e da Lilia abandonada, que p'lo ciume ralada se trespassou co'um pepino.{5} Já o conhecem?—Pois bem! Um dia 'stava o bom velho co'uma das mãos n'um joelho, n'um joelho ou n'um artelho, (isto diz-se; não n'o juro) meditando no futuro, talvez prevendo da Hespanha o rebentar da castanha; e batem de rijo á porta. —Quem é?—a criada indaga. —Manoel Pinheiro Chaga.— —Manda subir a visita.— E de si p'ra si:—Que praga!— E quando elle entra na sala: —Ó meu amigo, que dita! Como se lembrou de mim no meio dos seus triumphos o Méry do folhetim?— —É lisonja; agradecido; acabei o meu poema...— —E vem a mostrar-m'o, sim? Então, amigo, não trema; o tremer é de criança; em mim não põe confiança? Parece pouco animoso!...— —Bagatella! isto é nervoso! Padeço muito dos nervos!— —Eia, sus, ó meu irmão, eia, vate sonoroso! a ti a minha attenção!— E o poeta recitou-lhe d'um só fôl'go a Invocação:{6} e logo apoz o poema, que na filha d'uma beef (p'lo modo séria menina, que o Chaga baptisou Emma) fui descobrir a heroina. E por fim o poemeto, em que o heroe papa-fina, p'ra não dizer papa-moscas, á chuva, mui socegado, medita no seu passado