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O Olho De Vidro

9781465568694
pages
Library of Alexandria
Overview
O melro, eu conheci-o: Era negro, vibrante, luzidio, Madrugador, jovial; Logo de manhã cedo Começava a soltar d'entre o arvoredo Verdadeiras risadas de cristal. E assim que o padre cura abria a porta Que dá para o passal, Repicando umas finas ironias, O melro d'entre a horta Dizia-lhe: «Bons dias!» E o velho padre cura Não gostava d'aquellas cortezias. O cura era um velhote conservado Malicioso, alegre, prasenteiro; Não tinha pombas brancas no telhado, Nem rosas no canteiro: Andava ás lebres pelo monte, a pé, Livre de rheumatismos, Graças a Deos, e graças a Nóe. O melro despresava os exorcismos Que o padre lhe dizia: Cantava, assobiava alegremente; Até que ultimamente O velho disse um dia: «Nada, já não tem geito! este ladrão Dá cabo dos trigaes! Qual seria a rasão Porque Deos fez os melros e os pardaes?!» E o melro no entretanto, Honesto como um santo, Mal vinha no oriente A madrugada clara Já elle andava jovial, inquieto, Comendo alegremente, honradamente, Todos os parasitas da seara Desde a formiga ao mais pequeno insecto. E apesar d'isto o rude proletario, O bom trabalhador, Nunca exigiu augmento de salario