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La Novela De Un Novelista

9781465568236
pages
Library of Alexandria
Overview
I MARIA PEREGRINA Encontrei-a indolente, distrahida, em viagem pelo Minho. Estou a vê-la!—mulher de trinta annos, cabellos negros, olhar ennevoado, sombrio, sobrancelhas luzentes, labios finos, mostrando a espaço os dentes brancos, rosto moreno, talhado em linhas puras, modelo de bronze precioso de casa antiga, com ademanes de adolescente e artista. Acompanhava-a uma extrangeira mais nova, de cabellos e olhos castanhos, muito branca, boca pequena, duma belleza vulgar, que abria em riso ingenuo, ar aventureiro de quem segue por um mundo de acaso, ao capricho doutra, da companheira, que a envolvia, ás vezes, num largo olhar complacente e tenebroso. Percebi entre as duas a mais esquisita intimidade, a que a segunda parecia dar-se passivamente, mas alegre, por comprazer, numa generosidade estulta de pessima lassidão. Iam quasi á vontade na carruagem, indifferentes á observação extranha, longe do mundo em que viviam, trocando olhares perversos, duma sensualidade doentia, ali, á face de desconhecidos, que só excepcionalmente podiam acceitar com benevolencia a vida que denunciavam. Maria Peregrina pareceu-me uma esgotada, figura confusa, a contas com desequilibrios intimos, que lhe reflectiam fadiga e exotismo