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No�s botanicas das especies de Nicociana mais usadas nas fabricas de tabaco, e da sua cultura

Anonymous

9781465568144
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Library of Alexandria
Overview
VII Nova-Orleans é, talvez, a cidade mais importante do sul dos Estados-Unidos. Nosso primeiro cuidado, como era natural foi desembarcar, «ir á terra», ceiar bem e dormir tranquillamente um somno bom e reparador. Nao nos faltariam esplendidos hoteis e magnificos rooms onde podessemos, á vontade, descansar dos trabalhos da viagem. Nossa demora devia prolongar-se ahi mais do que em qualquer outro porto, por causa da Exposição e a instancias dos habitantes da cidade, que nos preparavam deliciosas surprezas. Tinhamos tempo bastante para ver Nova-Orleans, para observar os costumes americanos e fazer um juizo mais ou menos approximado d'aquelle bello povo. O porto estava atulhado de barcas de commercio?vastas embarcações de dois e trez pavimentos, duas e trez chaminés negras a deitar fumaça n'uma actividade constante, rodas na pôpa, muito mais amplas que as nossas barcas Ferry do Rio de Janeiro. Atopetadas de saccas de algodão e outros generos do paiz, esperavam o momento preciso e regulamentar de se fazerem ao largo. Emquanto esperavamos, vivamente anciosos, o escaler que nos devia conduzir ao caes, assestavamos o oculo para a cidade quasi silenciosa áquella hora, e cujas ruas não tardariamos a conhecer. Accendiam-se os primeiros bicos de gaz. Ao longe, n'alguma egreja remota, badalava um sino triste. Já não se ouvia quasi o brouhaha quotidiano. Numerosas embarcações cruzavam-se no rio. Ouviamos guinchos de locomotivas e o surdo ruido de carros que ainda labutavam. Alguns officiaes deixaram-se ficar aguardando o dia immediato para mais commodamente satisfazerem sua curiosidade de viajantes em terra extrangeira. entrada de nova-orléans Era fim de inverno. Ameaçava chover. O frio continuava bastante forte ainda e os camarotes do Barroso offereciam, nessas condições, agasalho confortavel aos mais friorentos. Na manhã seguinte, grupos de officiaes brazileiros, uns fardados, outros á paisana, percorriam Nova-Orleans. O St. Charles Hotel, um dos melhores estabelecimentos da cidade, e o Royal Hotel?primeiro em luxo e ornamentação?eram procurados avidamente. Os jornaes davam noticias circumstanciadas de nossa chegada e annunciavam festas em homenagem ao Brazil. Uma vez installados nos hoteis, cada um de nós em seu vasto aposento, onde nada faltava, tão differente dos estreitos camarotes de bordo, dividimo-nos em grupos. Quanto a mim, o meu primeiro cuidado foi munir-me de um guia da cidade, especie de pocket-book muito commodo, registrando indicações uteis de estabelecimentos e logares principaes. Meu quarto ficava no segundo andar do St. Charles Hotel com frente para a rua do mesmo nome?uma saleta mobiliada com a maxima sobriedade, sem luxuosas decorações, contendo apenas os moveis indispensaveis a um rapaz solteiro, e o fogão a um canto. Depois de magnifico banho morno em bacia de marmore (perdôem-se-me estas innocentes confidencias, aliás de bom gosto) seguido de um valente almoço de ostras crúas, as melhores que eu tenho provado, regadas á Sauterne, mastigando (é o termo, porque não sou lá muito admirador de charutos) mastigando um charuto, que não sei bem si era de Havana, sahi a fazer meu primeiro passeio, minha promenade matinal, começando pela Canal Street, a rua mais importante de Nova Orleans, que a divide em dois grandes bairros?o francez e o hespanhol. No cruzamento das ruas de St. No cruzamento das ruas de St. Charles e Canal erguia-se a estatua de Clay. É esse o ponto principal da cidade e o de maior movimento nos dias uteis. Parei defronte do monumento e consultei meu alcorão, quero dizer meu guia manual. «Estatua de Clay?Inaugurada solemnemente no dia 12 de Abril de 1860. Joêl T. Harl, de Kentucky, o artista que deu forma e proporções á estatua, assistiu ao acto. O orador official foi Wen H. Hemt.». Maldito laconismo! Pouco adiantei com as explicações do livrinho. A estatua é de bronze, sobre pedestal de marmore, e mede, approximadamente, quinze pés inglezes de altura. ?Continuam as estatuas! exclamei recordando as que vira em Barbados e Jamaica. Felizmente até agora não vira a de nenhum monarcha. Veio-me então á memoria aquella colossal massa de bronze que se ergue no largo do Rocio, no Rio de Janeiro, em fórma de um monarcha escanchado n'um bello cavallo. Tive pena de não ser aquelle bronze aproveitado para outra cousa mais digna e util. ?Que diabo! Aquillo é uma pagina de historia patria, reflecti.?E continuei o meu tour. A Canal Street é o centro commercial de Nova-Orleans, é a rua do Ouvidor d'aquella cidade, sem os grandes inconvenientes do nosso querido becco. Larga, bastante espaçosa e comprida, offerece transitos especiaes para a população, para trens, bondes e carruagens. As ruas, na maior parte são mal calçadas, principalmente para o interior da cidade. É, sem duvida, admiravel semelhante incuria em se tratando de americanos do norte, entretanto, é uma verdade que não deve ser esquecida, para consolo de nossas municipalidades. Na Canal se acham os melhores e mais solidos edificios, as mais fortes casas commerciaes, os mais importantes armazens da cidade, cafés, restaurantes, clubs, etc. Convenci-me desde logo que os principaes productos industriaes de exportação eram?assucar e algodão, como bem presumira ao desembarcar, no caes, onde era enorme a accumulação de fardos desses dois generos. De vitrine em vitrine, observando sempre, escrupulosamente, curiosamente, á cata de novidades extrangeiras, posso affirmar que nada vi, surprehendente… Ah! sim, vi umas graciosas caixeiras accudirem pressurosas e desenvoltas, com o desembaraço proprio de sua raça, aos compradores, cousa aliás muito simples, muitissimo natural, mas não no Brazil, onde as senhoras estão eternamente prohibidas de competir com o outro sexo na vida publica. Parece-me que só n'este paiz ainda não se observa nem se permitte esse costume tão natural, tão proprio, tão efficaz mesmo, das senhoras pobres empregarem-se no commercio a retalho. Na Inglaterra, em Franca, na Allemanha, na Italia e nos Estados-Unidos é habito velho, ao que me consta, as senhoras servirem nos balcões, e é de notar que cumprem seus deveres com assombrosa pericia. Ás nove horas da manhã, que digo eu! ás seis horas, depois de ligeira refeição, encaminham-se para o trabalho quotidiano, felizes, satisfeitas, envolvidas em grossas capas de lã no inverno, a bolsa de um lado, sem siquer fazerem-se acompanhar. Vão direitinhas de casa para a loja ou escriptorio, sem que ninguem lhes dirija uma pilheria, sem que ninguem as desrespeite, e, á noite, recolhem-se da mesma fórma, sempre alegres, transpirando saúde, a face rubra. Muitas vezes sahem das lojas, mudam a toilette, fazem seu penteado, perfeitamente dispostas, e d'ahi a pouco estão nos bailes, nos concertos, nos theatros. Rara a casa de modas, o armarinho, a livraria onde se não encontra uma senhora exercendo as funcções de simples caxeira, ou como guarda-livros, silenciosa na sua carteira, escripturando cuidadosamente o Caixa. Em alguns estabelecimentos publicos, no Correio, por exemplo, grande parte do serviço é feito por senhoras. Esse edificio, digamol-o de passagem, na rua Canal, é de apparencia extraordinariamente simples e desgraciosa. O serviço, porém, como em toda estação americana é correcto e sem demora. Individuos de muitas nacionalidades acotovellam-se na grande rua. Em Nova Orleans, como em quasi toda a a Luiziania, fala-se mais o francez que outro idioma qualquer, não sendo raro ouvirem-se negociantes, mesmo senhoras de elevada hierarchia falar, embora mediocremente, o hespanhol. Havia chegado o momento fatal, inevitavel, de nos exhibirmos tambem em lingua alheia. Pouco a pouco, nos iamos familiarisando com a população e com o ídioma d'esse adoravel canto da terra que o Mississipe banha. O dia seguinte ao de nossa chegada á Nova Orleans (31 de Março) estava designado para o encerramento da Exposição das Trez Americas. Avisados d'esta solemnidade, deviamos comparecer a ella em grande uniforme, encorporados. Foi um dia essencialmente brazileiro esse. Nos convites para a festividade lia-se esta impagavel gentilesa: Brasilian day. Todas as attenções convergiam para o Almirante Barroso (brazilian man of war). br /> O palacio da Exposição estava situado a alguns kilometros fóra da cidade, n'um de seus pontos mais pittorescos, o Upper City Park, á margem do Mississipe?largo edificio vistosamente adornado e do alto do qual se avistava toda a cidade e immediações. Na manhã d'esse dia, por signal chuvoso e coberto de nevoeiro, embarcámos em trem especial, que nos fôra destinado pelo presidente da Exposição, Mr. Ed. Richardson, um yankee muito amavel, todo cortesia, sempre com um bello e espontaneo sorriso a captivar a gente, correcto sempre, irreprehensivelmente correcto. Embarcámos na Canal street, defronte do Pickwick Club, em companhia de muitos officiaes da Guarda Nacional, de Mr. Richardson e de officiaes da corveta franceza l'Étoile, que se achava no porto de Nova Orleans, dos consules e outras summidades do paiz. O trem abalou como um raio, todo enfeitado de bandeirolas americanas, brazileiras e d'outras nações, ao som de musicas e acclamações delirantes, rasgando, na sua marcha vertiginosa, o nevoeiro que cahia sem cessar penetrando os wagons escancarados ao ar frio da manhã, soltando guinchos medonhos… Durante o trajecto não me cansei de observar os sitios que o trem atravessava. De um lado e d'outro da linha estendiam-se vastas plantações de algodoeiros desfolhados pelo rigor do inverno, amontoados de neve, immoveis phantasmas brancos no silencio infinito dos descampados; casas de campo deliciosas para se passar o verão, trancadas á neve, muito brancas e desoladas, riam, como saudando a nossa passagem, e desappareciam rapidamente no horisonte esfumado. É de vêr a simplicidade reunida á graça que apresentam essas habitações: vêr uma é vêr cem, tal a uniformidade de sua architectura. Em geral são de madeira, pintadas de branco e cinzento, com seu terraço para as calidas noites de verão, jardim e horta arranjados com admiravel cuidado e bom gosto. Absorvido completamente pelo aspecto variado da paisagem, sem prestar attenção ao circulo ruidoso dos collegas, eu (lembro-me bem) formava planos de vida socegada, n'algum eremiterio entre a eterna frescura das plantas e o amor eterno d'uma creatura querida. Invejava os simples, os sertanejos, os homens dos campo?esses para quem a vida corre sempre calma, porque seu coração não conhece outro amor senão o da esposa e o dos filhos, esses de quem Boileau dizia Heureux est le mortel qui du mond ignoré Vit content de soi même en un coin retiré… E eu me transportava outra vez ao Brazil, outra vez eu tinha a nostalgia da patria, a saudade vaga e inexplicavel de minha terra natal. Parecerá uma phantasia de poeta adolescente isto que acabo de dizer, mas é a verdade, a expressão sincera do que eu sentia ao atravessar a região que ia ter lá, ao palacio da Exposição. A tristeza da neve communicava-se ao meu espirito imprimindo n'elle não sei que despretenciosas ambições de silencio e recolhimento. Alguem já procurou explicar a influencia que exerce o estado hygrometrico da atmosphera no estado psychologico do individuo. Eu de mim só sei que o patriotismo, longe da patria, dupplica. E fechemos esta especie de parenthesis. Uma commissão de cavalheiros, competentemente encasacados, veio receber-nos ao desembarque. Entrámos. Nossa entrada foi verdadeiramente triumphal. Dentro e fóra do edificio era grande a agitação. Ondas de povo entravam e sahiam percorrendo o pittoresco Upper City Park. Felizmente «levantou o tempo», como se costuma dizer. Ao assomar á porta do grande salão de honra o primeiro official brazileiro, o commandante do Barroso, ao lado do consul e do presidente da Exposição, a orchestra de professores, brilhantemente organisada, rompeu lá dentro o hymno nacional americano (não conheciam o nosso hymno aliás tão vulgarisado), os espectadores que enchiam o vasto recinto ergueram-se, e uma salva estrepitosa de palmas acolheu o resto da officialidade. Houve um momento de verdadeiro delirio, em que todos batiam palmas sem interrupção levantando vivas ao Brazil. Serenado o enthusiasmo, um enthusiasmo indescriptivel, apopletico, tomou a palavra Mr. Richardson, que proferio o discurso de encerramento, saudando a armada brazileira. Seguiu-se na tribuna o orador official, que, n'um improviso eloquentissimo, patenteou a necessidade de uma união entre todas as nações americanas, desenvolvendo largamente as vantagens que d'ahi proveriam a todas elas. Falou tambem o governador da Luiziania, e, finalmente, os Srs. Salvador de Mendonça e Saldanha da Gama, cujas palavras foram cobertas dos mais significativos applausos. Terminada a ceremonia oratoria, foi-nos franqueado o edificio da Exposição, que percorremos examinando com interesse os differentes pavilhões industriaes. O Brazil?é triste dizel-o?fizera-se representar de modo bem insignificante. Brilhariamos pela ausencia, si o Governo não tivesse a lembrança de mandar o Almirante Barroso. Amostras de madeiras, café em grão, fumo, artigos de borracha, constituiam os principaes productos brazileiros expostos á curiosidade dos visitantes de quasi todas as partes do mundo civilisado. O pavilhão do Brazil deixava-se ficar em plano inferior aos das outras nações, como si fossemos um pobre paiz, cujos productos não valessem a pena de ser expostos n'um certamen internacional! D'ahi, talvez, o assombro dos americanos ao verem o Almirante Barroso, esse esplendido vaso de guerra de envergadura possante, capaz de resistir aos mais fortes temporaes e que elles, os extrangeiros, duvidavam fosse obra nossa. ?Como? Pois no Brazil tambem se fabricam navios de guerra? Está muito adiantado o Brazil! E repetiam com um ar de duvida e de ironia medindo d'alto a baixo e de pôpa á prôa o magestoso cruzador, que balouçava de leve sobre o Mississipe: ?Está muito adiantado o Brazil! Entretanto o Mexico, a America Central e as republicas sul-americanas, sem os recursos invejaveis da grande nação, sobresahiam admiravelmente. O pavilhão do Mexico, sobretudo, desafiava a maior parte dos outros não só em abundancia de artigos, mas, principalmente, em belleza e bom gosto, em elegancia e riqueza. Escusado, parece, falar do importante logar que coube aos Estados-Unidos. Que profusão de machinas e instrumentos industriaes de invenção puramente americana! Ali mesmo, á vista do observador, fabricavam-se os mais curiosos objectos de fantasia e de uso domestico; o linho, o algodão, a sêda?eram tecidos rapidamente aos olhos de todos. Imagine-se agora o ruido, a algazarra, a movimentação que devia reinar ali dentro d'aquelle immenso edificio, certamente muito longe de ser comparado aos palacios de exposições universaes, mas ainda assim um dos maiores que se tem levantado n'esse genero. Para dar uma idéa de suas dimensões?não o chamaremos vaticano da industria para não exagerar?basta dizer que o salão de musica?music hall?accommodava 11.000 pessoas, inclusive uma vasta área para 600 figuras. Impossivel descrever as amabilidades, as gentilezas que nos foram prodigalisadas largamente pelas adoraveis americanas de Nova Orleans nessa festa democratica de confraternisação internacional; recordar as phrases deliciosas, os galanteios irresistiveis… O que posso affirmar é que o brazilian day ha de perdurar por muito tempo no coração d'aquelles que tiveram a felicidade de assistir essa bellissima festa. Dias depois voltei ao palacio da Exposição, sosinho, como simples curioso que não tivera tempo bastante para examinar tudo no pequeno espaço de doze horas. Nada mais restava senão o esqueleto nú do edificio em via de demolição. Todos os objectos tinham sido retirados com assombrosa rapidez. Operarios em mangas de camisa martellavam grandes caixões, assobiando monotonamente, emquanto outros carregavam pesados volumes contendo os ultimos especimens da industria americana. Voltei immediatamente com um ar compungido de quem acaba de acompanhar um enterro, lamentando o tempo perdido e exclamando de mim para mim: ?Ah! americanos d'uma figa, sois um povo excepcional! Agora uma pergunta ingenua: Porque é que o Brazil, com os numerosos recursos que tem á mão, timbra em occupar logar segundario em quasi todas as Exposições a que concorre? Indifferença, talvez, simples indifferença de nossos governos. Na celebre Exposição de Philadelphia não sabiamos á ultima hora como e onde accomodar os productos deste paiz, em consequencia de não ter o governo mandado construir um pavilhão especial. Contentamo-nos em enviar objectos bastante conhecidos, não fazemos selecção na escolha d'elles, não nos importa o modo como devam ser acondicionados. Na Exposição de Vienna ainda o Brazil teve de occupar logar pouco lisongeiro, e si alguns de seus productos principaes tiveram a felicidade de ser premiados foi isso devido, não ao governo, mas tão somente a esforços de muitos negociantes do Rio de Janeiro e do Pará. Annuncia-se para o anno vindouro uma Universal Great Exhibition, nos Estados-Unidos, cujo successo irá rivalisar, talvez, com o da Exposição Universal realisada ha mezes em Pariz e notavel pela colossal e tão celebre torre Eiffel. Nenhuma razão assiste para que a grande nação da America do Sul, o Brazil, não se faça representar com todo o brilho de sua incontestavel riqueza. Agora que somos republica, torna-se dupplamente preciso que patenteemos ao mundo inteiro a infinita variedade de nossas produções agricolas, a opulencia invejavel da flora brazileira e da industria já bastante adiantada d'este bellissimo paiz, cuja natureza extasiou Humboldt, Agassiz e tantos outros sabios da Europa. Si cada Estado souber cumprir seu dever não poupando esforços para esse nobilissimo fim, certo d'esta vez não teremos que corar perante as outras nações como nos tempos do anachronico imperio do Sr. D. Pedro II